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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um poema



E esse céu,
tão cinza,
tão vago, 
tão bemol.
A verdade se insinuou,
me puxou pra dançar
e sentou. 
Quem dirá que a festa acabou?
O vinho esquentou,
a gente embriagou, 
o tempo passou e o sóbrio tédio perdeu sua máscara. 
A gente se conforta com as possíveis possibilidades do ficar, 
da maré abaixar
e nosso medo tropeçar.
Quando findar, talvez perceba a crueldade do teu papel,
que a plateia de costas aplaudiu. 
Vejo no espelho teu rosto que outrora brilhava como as luzes da cidade 
e agora esse apagão me faz perceber que as estrelas estavam me olhando... 
Pois sim, o dia atravessou, ensopou e nada declarou. 
E agora se teu amor não se consola, quem poderá despertar de novo tua alma?

terça-feira, 29 de abril de 2014

Paulo Cecílio

A gente vai ficando sem saber/ se é sábado/ ou segunda/
e vê as horas na lua/ que ora cheia / ora míngua...

Nos dedos/ os nós endurecem/ pra amolecer a alma/ 
trazendo o tempo de ficar maduro/
como as bananas verdes do mês passado/ agora se trincam de doçura!

A gente vai ficando surdo/ ouvindo ervas/
que brotam no canteiro...

Muitas coisas partem/ deixando nossas almas/
mas quando canta o vento/
dos arrepios da pele/ a gente não se livra...

terça-feira, 8 de abril de 2014

Fernando Pessoa

"Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, 
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.
Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.
Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.
Fim."

sábado, 15 de março de 2014

Mia Couto

Minha vocação é o silêncio.

Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhando, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.


domingo, 2 de março de 2014

Sobre a leitura

. A leitura nos aproxima da compreensão de mundo e do autoconhecimento.
. Ao ler, nos deparamos com aquilo que pensamos: com nossas crenças.
. É possível “experimentar” com a leitura sem de fato experimentar fisicamente.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Poesia!

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" Um café quente, sempre vem como um afago.
Como se entendesse os pensamentos em desalinho.
Nos permitindo traçar o caminho;
Renascer onde o instante se faz cansado.
Recriar, onde o sonho ainda é vago.
Ser amor, em cada momento.
Enquanto, docemente nos fazemos sentimento.
Pra mais um dia...
Mais um sonho, de terna poesia.
Que floresce doce e amigo.
Enquanto, tomamos mais uma xícara de café."

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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Saudade

"Do que me lembro jamais eu falo.
Só me dá saudade o que nunca recordo.
Do que vale ter memória
se o que mais vivi
é o que nunca se passou?"

( Mia Couto - O último voo do flamingo )

sábado, 25 de janeiro de 2014

Amor



Quero viver um
amor eterno,
mesmo que seja
só por um
instante.

Wanderley Elian.
Tela de Willem Haenraets.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mario Quintan

Canção do dia de sempre
Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...